Um de meus irmãos, por usualmente ceder o seu lugar no ônibus a outras pessoas quando adolescente, foi apelidado de Gentil por uma garota que sempre ia de ônibus com ele no mesmo horário. Nesse mundo agitado e individualista a gentileza passou a ser exceção a ponto de estranharmos quanto alguém é gentil, faz uma concessão inesperada ou simplesmente é humano, generoso, vê e trata o outro da forma que gostaria de ser visto e tratado.
No dia-a-dia nos relacionamos com muitas pessoas, que se mostram agressivas, competitivas, indiferentes, secas, atenciosas, solidárias, gentis ou amorosas. Coloquei quatro atitudes positivas e quatro negativas, mas infelizmente a proporção real não é essa, as pessoas estão cada vez mais distantes e indiferentes, quando não hostis. Mas especialmente no atendimento que nos é dado como consumidor a gentileza toma feições próprias. Um vendedor muito gentil às vezes é considerado como chato ou como esteja apenas “vendendo o seu peixe”. Altamente irritantes são os atendimentos dos call centers, impessoais, automatizados, incompetentes na maioria das vezes.
Algumas situações, entretanto, nos surpreendem positivamente. Consultei há alguns meses atrás uma assistência técnica de aparelhos de som e fui muito bem atendido ao telefone e, é claro, elogiei o atendimento, como costumo fazer. A minha intenção era substituir um controle remoto que já havia saído de linha, mas o atencioso funcionário, quando percebeu que eu ainda tinha o controle, me disse que seria possível consertá-lo, ao invés de substituí-lo por um genérico, mediante um orçamento pré-aprovado de R$45,00. Levei o controle remoto ao conserto, pois preferi manter o original. A minha surpresa foi que, tendo levado o controle remoto às 10 da manhã, no mesmo dia recebi uma ligação às 16 horas de que ele estava pronto e que não havia custo. Ao buscá-lo, confirmaram que era uma cortesia da empresa, o que me sensibilizou a fazer os mais rasgados elogios.
Numa segunda situação, ao receber uma cotação de um produto farmacêutico importado, manifestei minha dúvida se o produto cotado era o mesmo que pedi, diante da grande diferença entre o preço praticado lá fora e o preço ofertado por eles. A funcionária me explicou que haveria a diferença de impostos, de frete e do lucro da empresa, o que é natural. Entretanto como eu não tinha uma extrema necessidade do produto, desisti de comprá-lo. Mas no mesmo dia recebi um e-mail, da farmacêutica da empresa, com rara delicadeza, reafirmando o que a funcionária dissera, mas dizendo que como uma gentileza para mim, importariam um ou mais frascos a preço de custo, acrescido apenas de um frete módico. Fiquei outra vez sensibilizado e feliz por constatar que há pessoas sensíveis e não “máquinas” pelo menos em alguns dos estabelecimentos comerciais.
Parece mesmo que a chave da questão é colocar-se na posição do outro, imaginar como gostaríamos de ser atendidos e tratados. E se começarmos a fazer gentilezas, tratar bem as pessoas nas relações pessoais, ou apenas manter o costume de agradecer a cada pessoa com a qual fazemos contato no comércio e prestação de serviços, além de elogiar quando somos bem tratados, o efeito multiplicador destas atitudes será altamente gratificante para todos.
Gentil (Gilberto)
Moderador: Gilberto Melo
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