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Historinha de Natal (Gilberto)

Enviado: Sex 26 Jun 2009 6:43 pm
por Gilberto Melo
* O Menino e o Carrinho reescrito

Há muito tempo, lá pela época dos nossos bisavôs, quando ainda nem se sonhava com os grandes shopping centers da vida moderna, os presentes natalinos eram muito simples. Cada um produzia os presentes que ia dar aos seus amigos, filhos, pais, namorados, irmãos e afilhados. A cozinheira fazia doce, a tecelã tecia um suéter, um par de meias ou um agasalho, o marceneiro fazia carrinhos de madeira, casinhas de bonecas, o serralheiro confeccionava cestinhos de flores e adereços de ferro, a costureira produzia lindas bonecas de pano com rosto de porcelana. Aqueles que plantavam, colhiam flores, trigo para fazer o pão, chás e até mesmo mirra como fizeram os reis magos, inspiração para os presentes natalinos, de modo que cada um se valia do talento associado ao afeto para presentear. A vida moderna levou para longe esse tempo e a idéia de comprar os presentes passo a alimentar a enorme máquina de consumo, ainda que os corações dos que presenteiam permanecessem os mesmos e, os presentes, continuassem a encantar aqueles que os recebem, principalmente as crianças.

Certa vez, numa cidade de Minas Gerais, um casal, que tinha sete filhos e os amava muito, se viu numa situação tão adversa que, naquele natal, não seria possível presenteá-los como fazia em todos os anos. O pai procurou como pôde contornar a situação superar aquele momento e, por mais que tentasse, não foi possível. A mãe, sabendo das dificuldades do marido e da situação da casa, abriu seu peito à sensibilidade à procura de uma saída. Pensou, pensou e pensou... E, não é que vislumbrou uma saída? Certo dia, um pouquinho antes do natal, se pegou distraída a observar no terreiro da casa, um carrinho estacionado perto da porta da cozinha, certamente deixado por um dos filhos. Observou aquele carrinho de madeira, surradinho e descorado, por mais bem cuidado que estivesse, e foi aí que a idéia veio.

- E se eu recolher aquele carrinho e os outros brinquedos sem que ninguém perceba e os pintar? Acho que eles ficarão novinhos, novinhos. – pensou.
Certamente conseguiria tinta para pintar os brinquedos e, feliz, foi consultar o marido. Ele lhe sorriu de alegria, afinal, não decepcionaria as crianças num dia daqueles. O pai dos garotos exclamou:

- Que boa idéia, mulher!

Começaram a transformar a idéia em solução e, dias antes do natal, as tintas e os pincéis já haviam sido comprados e bem guardados na casa simples da família. Para que tudo desse certo, a mãe dos sete garotos precisava da cumplicidade de pelos menos um deles. Chamou um dos seus filhos, fecharam-se no quarto e, cuidadosamente, como fazem as mães, explicou a difícil situação que atravessavam e detalhou o seu plano para não deixar que o natal passasse em branco. O garoto, de apenas oito anos de idade, compreendeu e se comprometeu a ajudar a mãe. Juntos, mãe e filho recolheram os carrinhos e os outros brinquedos e, por diversas vezes iam furtivamente ao quarto e davam as suas pinceladas naqueles objetos. Vez por outra, um dos irmãos, desconfiado, batia na porta e os brinquedos, assim como as tintas e os pincéis, iam parar debaixo da cama e, ainda que o cheiro da tinta ficasse no ar, ninguém parecia suspeitar de nada. Eles continuaram a pintar os brinquedos mesmo sabendo que não eram exímios pintores e que o trabalho não teria a qualidade de um profissional. Sabiam, entretanto, que mais que a qualidade do trabalho, colocavam afeto, amizade e amor e, com isso, qualquer possível defeito da pintura jamais seria percebido.

Ao pintar os carrinhos, aquele menino ia descobrindo a importância do trabalho, do afeto nele contido e sorria só de pensar na alegria de seus irmãos ao receberem os velhos –novos brinquedos. Descobria também que desempenhava com sua mãe um papel importante para a sua vida e para o bem estar de sua família, afinal, ajudava-a a colocar cores na vida dos irmãos e percebia nela e no seu pai o quanto eram filhos amados. No seu sonho ao pintar o carrinho, que transportava seu mundinho de criança na sua carroceria, ele percebia que podia também transformá-lo para fazê-lo um pouco melhor. Afinal, era isso que seus pais, naquele momento de aperto, lhe ensinavam: transformar um brinquedo para ver os olhos dos filhos estampados de alegria.

O dia de natal foi uma festa simples e boa. À noite, depois que cada um foi dormir, os pais, sorrateiramente, colocaram perto da caminha de cada filho o brinquedo rusticamente pintado de novo. O menino, que partilhara com a mãe o segredo e a pintura, também recebeu o seu, pintado de branco e alaranjado. Pôde perceber que estava sem o barbante para puxá-lo e, imediatamente, providenciou e ajudou os irmãos menores a fazer o mesmo.

O tempo passou, os meninos cresceram e o autor dessa história, já homem feito, ainda carrega consigo o orgulho de ter participado de um evento tão bonito. Hoje, seu mundo, que é muito maior, cabe em afeto naquela surpresa pintada que recebeu de seus pais como presente naquele natal.

Re: Historinha de Natal (Gilberto)

Enviado: Seg 12 Mar 2012 8:54 am
por vilma melo
Gilperto, bom diaaaaaaaaa!

E melhor dia ainda para mim, começá-lo lendo alguns dos lindos escritos do seu site familiar. Por hoje, li o poema de face e e essa historinha de Natal. Adorei ambos.
Fiquei feliz por seus pais terem tido o hábito de comemorar o Natal, terem sido afetuosos e a sua mãe tão iluminada. E você, bem, essa pessoa carinhosa e sensível, desde pequenininho.
Obrigada por compartilhar.

Bjos, que a semana lhe seja leve, bacana e produtiva.

Vilma