A Dança do Apocalipse (Gilberto)

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Gilberto SMelo
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A Dança do Apocalipse (Gilberto)

Mensagem por Gilberto SMelo »

A dança do apocalipse é o momento no qual se define quem entendeu o que já aconteceu até esse momento. Nesta dança eles participam representando e rememorando o que deixa de ser presente. Seguem-se algumas cenas, partes da divina e infernal coreografia apocalíptica. São cenas da região do SENTIR, do SER.

A Sinfonia nº 1 de Cada Um
A vida é uma coleção de lembretes, gravações. São emoções, racionalizações, fatos, reações. São um emaranhado de formas-pensamento que emanam de um todo e influenciam essa vida. Parece um quebra-cabeças, pois a solução da vida, o seu significado, é juntar todas essas gravações, todos os pequenos detalhes do aqui e agora, até que tudo seja aqui e agora. Até que todas essas gravações juntas formem uma sinfonia harmônica onde inclusive gravações desafinadas participam. Participam, mas não tem força e individualidade, pois são apenas parte de uma unidade fluida e descomprometida. Cada instrumento da orquestra tem seu valor, não há discriminação. O que interessa é o resultado que se percebe do todo como unidade, a transcendência.

O Não Fazer
Nossa cultura nos ensina o caminho da ação, o caminho do agir e do re agir. Ela nos dá as grades para que façamos nossa própria prisão. Inocentemente chegamos à conclusão que o caminho mais fácil e óbvio é nos prender à atividade, ao conhecimento. Mas o conhecimento que se apresenta para nós é capcioso, pois ele nos ensina a fazer. Formular uma idéia, elaborá-la e partir para a execução. O risco é que usemos simplesmente os padrões colocados pelo conhecimento sem percebermos nossa individualidade gritante. Partimos de algo de fora, ao passo que tudo está dentro de nós.
Desde os tempos mais remotos o inconsciente coletivo solicita a descida de anjos, deuses e discos voadores representando a sabedoria vinda de fora.
O Homem atesta dessa maneira o quanto ele se subestima colocando o conhecimento acima de si mesmo, o externo além da essência. No momento que ele desliga o externo, se desliga do conhecimento, ele percebe o que é não fazer. Ele sente que se mantiver o contato com sua essência, ele é todo poderoso, é o próprio não fazer. Ele percebe que é como a flor, que não faz o fruto, simplesmente acontece o fruto como uma seqüência natural da energia da flor. Ele sente uma emoção e dá seqüência a isso, deixa fluir, não faz nada. Aparece um desejo e de repente ele é realidade, porque ele não faz nada. De repente pode abandonar tudo o que for necessário para estar exclusivamente consigo mesmo e com o todo. Ele é o EU SOU. Nada mais precisa fazer que não fazer nada. Perde a sua individualidade e passa a vibrar como um todo. É um iluminado, é o seu Deus.

Grito Ecológico
As pedras, as flores, a água, os animais e os homens têm uma igual participação na natureza. Só o homem tem a presunção de imaginar que a natureza foi colocada a seu serviço. Então ele usa e abusa sem saber que está destruindo a si próprio. Ele não quer perceber que a relação ideal é a simbiose harmônica e não a desenfreada atuação como parasita. Ele toma a iniciativa de comer e beber e acusa o que ingere de lhe fazerem mal. Ele se fere com as próprias mãos e reclama que foi apunhalado. Usa as drogas e coloca nelas uma responsabilidade muito grande. Acusa-as de trazer e levar o êxtase. Em nenhum momento ele percebe que tudo é seu, que as drogas não fazem nada, não são necessárias. Ele não percebe que se após usar uma droga se sente diferente, aquela sensação e energia são suas, não foi a droga quem trouxe. Nem tampouco a droga irá levar de volta aquele espaço, pois ele não pertence a ela.
O homem furta, acusa o furto, não percebe que está roubando de si mesmo, e muito menos percebe que só pode ganhar quando parte do seu próprio referencial, usa a sua própria energia, faz jus à sua onipotência.

Ser Você
O homem quer explicar tudo, colocar a cabeça em tudo. Ele vê, interpreta a seu modo, justifica e dá tudo como resolvido e encerrado. Tudo vai se acumulando, uma pilha de explicações, deduções, racionalizações, até formar um enorme monte de lixo fétido. As proporções são tão grandes a ponto de o homem concordar ser uma boa idéia que sua cabeça seja maior em relação as outras partes do corpo. Em sua ficção ele compromete inclusive os possíveis seres mais evoluídos de outros planetas ou épocas, imaginando-os de cabeças grandes e corpos esguios. Até os olhos se apresentam maiores, presumindo que eles “vêem” mais. O homem tem se atrapalhado com sua própria cabeça fazendo-a um depósito de lixo cada vez maior, que pesa cada vez mais. Ele não entende que a evolução não precisa ser gradativa, que não está longe e que não está ligada ao intelecto. E é chegado o momento de saber que evolução, progresso, conhecimento, tecnologia, passado, futuro, espaço e tempo nada significam na região do SENTIR, do SER.

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