Mas que saudade (Geraldo)

Quando das Bodas de Ouro de João Basilio e Alice Maria tivemos a agradável surpresa de conhecermos pequenas histórias da infância de seus filhos. Agora abrimos este novo espaço para novas historietas como aquelas. Estimulamos os irmãos a contribuírem, como já fez o Geraldo.
Responder
Gilberto SMelo
Site Admin
Mensagens: 299
Registrado em: Qui 26 Mai 2005 2:23 pm
Localização: BH-MG

Mas que saudade (Geraldo)

Mensagem por Gilberto SMelo »

Morávamos na rua Leopoldo Gomes, 965, no bairro Vera Cruz. A casa fora comprada do já há muito extinto IAPI; com o tempo a casa foi reformada e, quando foi vendida, não se poderia lembrar de nada que retratasse a antiga construção.

Nesse cenário ocorreram muitas histórias, tenho certeza de que com todos os irmãos, papai, mamãe e alguns amigos de infância, um deles lembrado em minha estória anterior.

Lembro de a mamãe contar sobre a época em que o Gilberto nasceu, quando a casa estava alugada (para possibilitar o pagamento das prestações), e fomos morar em um barracão minúsculo onde, em tempo de chuva, era necessário pendurar um guarda-chuvas para não chover no “neném”...

Tem a lembrança do “Sô Mi” (Sr. Emílio), dono de uma mercearia que fornecia provimentos para nós enquanto papai viajava, para receber depois. Nesse particular, sei da história de quando ele negou crédito para a mamãe, pois a viagem do papai demorou (e o dinheiro também); aí entra a querida “dona Alice” que, desde então, pôs as garras à mostra, correu atrás, fez com que também participássemos, e carregou a dificuldade com a galhardia que, mesmo hoje, se pode reconhecer nela.

Inesquecível, também, a obra “faraônica” do papai, a caixa d´água construída sobre colunas altíssimas, capacidade para dez mil litros, que podia ser vista (e ainda pode), até do bairro Pompéia. Vizinhos e amigos achavam que papai era maluco, mas ele era um visionário...

Às vezes subíamos a escada, chumbada na parede, abríamos o alçapão da caixa para lavá-la. Era uma farra, porque cabíamos todos lá dentro, quase em pé. Numa dessas ocasiões... Conto daqui a pouco.

Lembro das vezes em que saíamos, os irmãos, antes do horário da escola, catando esterco, metal, qualquer coisa que pudesse virar dinheiro. Vendíamos em um ferro velho, acho que no “Alto do Minério”, e levávamos para casa o valor obtido, que rapidamente virava comida, misturada com “Oropronóbis”, colhido em abundância nas cercas dos vizinhos.

Não posso esquecer das “expedições” que fazíamos no lote da dona Naná, vizinha de frente de nossa casa. Goiabeiras, pedras amontoadas, mato, uma cabana em que brincávamos, brincadeiras com uma corda, como se fosse cipó e... uma pedra lançada aos ares, não se sabe por quem, e que acertou em cheio a cabeça do Giba ou Getúlio (a memória falha, né?).

Ainda quanto à dona Naná, ex funcionária do então INPS, esposa de dono de joalheria, recordo de sua bondade ao ir à nossa casa quase todos os dias, espiar as panelas e voltar com algo que as completasse... Do ineditismo de sua televisão, uma das primeiras do bairro, e de nós, irmãos, assistindo aquela maravilha pela janela da varanda dela, porque os pés podiam estar sujos do barro da rua, e a casa dela era um verdadeiro “brinco” de limpeza.

Talvez o mais importante, não me esqueço da viagem que fiz a São Bento com toda a família dela... Eu tinha onze anos de idade. Fiquei tão impressionado com o tratamento que recebi de todos, que escrevi uma cartinha a ela, agradecendo e, pasmem, ela respondeu !!! Foi um orgulho enorme! Ainda guardo com carinho essa carta tão antiga...

Tenho saudades daquele tempo em que nosso caráter era formado. Da naturalidade com que encarávamos a falta de algumas coisas, dos princípios de honestidade, de caráter, de tudo de bom que papai e mamãe ensinaram pra gente, para complementar a herança genética que recebemos.

Enfim, com todas as dificuldades da época, fui feliz como criança, debelei maioria dos meus ímpetos não tão bons na juventude, casei cedo e recebi de Deus a Graça de três filhos maravilhosos!

Hoje, recém chegado da Vila dos Cabanos, em Barcarena, pertinho de Belém / PA, onde conheci meu primeiro neto – Otto Augusto Costa Silva ! -, sinto-me ainda mais completo. Meus filhos estão encaminhados e felizes. Meus irmãos, eu não poderia pedir melhores. Os demais parentes presentes, aqui ou bem perto daqui – os que fizeram a breve viagem...

Resta agradecer por tudo o que recebi. Saliento sempre pra mim mesmo: agradeça, sim, pelos presentes visíveis que você recebe, mas nunca deixe de agradecer pelos presentes invisíveis que, por providência e misericórdia, Deus te entrega sem cobrar agradecimentos, colocando pessoas importantes ao seu lado, desviando dos maus caminhos, expondo às experiências necessárias para que você seja um filho d´Ele cada vez mais melhorado...

Responder