A história da família resgatada pela Tia Tonha

Aqui está aberto o espaço para a participação de todos em contar a história dos membros da familia Simão de Melo. Cada um pode acrescentar dados clicando em "Responder" ou em "Quick Reply".
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Gilberto SMelo
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A história da família resgatada pela Tia Tonha

Mensagem por Gilberto SMelo »

Vejam logo abaixo o início da história da família que está sendo trabalhada pela Tia Antônia, Silvana e Daniel. Esta história está colocada num caderno que a Silvana montou carinhosamente, após pesquisa inclusive em Ripas e que vai percorrer a casa de cada família para que sejam acrescentadas novas histórias e causos da família. Sugerimos que uma pessoa de cada família que tenha maior identificação com o tema, ou mais tempo para contactar todos os da família (na casa do Tio Veli é a Doralice, por exemplo), seja o responsável para coletar as informações. Uma das idéias para acrescentar os textos pode ser, tomando como exemplo a Doralice:

1. De posse do texto que já foi preparado e de um gravador a Doralice leria o texto para a Tia Lourdes, por exemplo, e pediria que ela comentasse cada trecho da história ou acrescentasse outros detalhes e causos que soubesse. Depois alguém passaria o conteúdo da fita cassete para texto digitado no computador e enviaria para ser colocado no site.

2. Outro jeito seria anotar enquanto a pessoa falar e depois digitar e enviar para colocar no site.

É preciso "puxar a língua" dos mais velhos da família para obter as informações.

Agora vamos à história:

Descendência de Antônio Simão de Melo
Entre 1870 a 1880 nascia uma indiazinha muito bonitinha que brincava feliz da vida. As tribos indígenas estavam cada dia menores e as cidades crescendo. Certo dia um senhor (descobrir nome do avô do Antônio Simão) a cavalo viu aquela linda indiazinha brincando, pensou em pegá-la para criar mas foi embora. Ele ficou com aquela menininha na cabeça e então voltou. A indiazinha quando viu aquele senhor se aproximar ficou com muito medo e saiu correndo. Ele jogou um laço e a pegou no seu cavalo levando-a para casa. Ela tinha mais ou menos 7 anos de idade, quase não sabia nosso idioma e foi chamada de Pricidonia, e com todo respeito foi tratada como se fosse filha dele. Este senhor tinha um filho chamado João Simão de Melo que cresceu junto com aquela índia, a Pricidonia. Eles cresceram, se apaixonaram, casaram e tiveram 4 filhos: Olímpio Simão de Melo, Antônio Simão de Melo, Maria e a Rosa. Eles moravam na comunidade dos Branquinhos. Olímpio Simão de Melo casou- se com Petronilia Maria dos Santos e teve 3 filhos: Maria Galdina dos Santos, Altino Moreira dos Santos e Vitalina Moreira dos Santos. A Maria casou-se, mas não sabemos o nome de seu esposo e de seus filhos. A Rosa era loira, muito bonita, porém faleceu nova, teve um ataque de epilepsia quando ia buscar água na bica. E Antônio Simão de Melo homem bondoso característica indígena, cabelos pretos lisos puxou sua mãe aquela índia que foi capturada no mato, sua avó.

Descendência de Maria Cândida de Jesus
Do lado da Maria Cândida de Jesus a historia começa com Vicente Ferreira Gomes e Zefirina (bisavós de Maria Cândida). Vicente Ferreira Comes e Zifirina eram fazendeiros, tinham muitos escravos e eram tratados por sinhô e sinhá. Um dia sinhá Zifirina ganhou um lindo menino loirinho de olhos azuis, seu primeiro filho. Certo dia uma escrava que tomava conta do almoço da família sem perceber deixou um talo de quiabo cair no chão. A criança que estava com 8 meses já engatinhava por toda casa, colocou o talo do quiabo na boca engasgou e morreu. Todos ficaram muito tristes com a perda daquela linda criança. Muitos acreditavam que a sinhá e o sinhô não iriam perdoar aquela escrava e iriam mandá-la para o tronco. A própria escrava gritava chorando: “Pode levar a nega pro tronco, a nega merece”. Mas Zefirina e Vicente Ferreira Gomes perdoaram a nega que não fez por maldade. Veio então a abolição da escravatura, os negros gostavam tanto da fazenda, do sinhô e da sinhá que não foram embora ficando por ali mesmo.
Vicente Ferreira Gomes e Zefirina tiveram 3 filhos: Ilário Ferreira Gomes, Maria das Dores Comes (mãe do Dr. Sebastião Gomes Guimarães, ex-prefeito de Divinópolis) e Delário Ferreira Gomes.
Delário Ferreira Gomes casou-se com Filomena (Filha de Virgínia e Francisco Claudino de Freitas. Delário era muito branco dos olhos azuis, já a Filomena era morena com apelido de baiana. Eles tiveram 7 filhos: Maria Cândida de Jesus, Virginia Maria de Jesus, Zeferina Maria de Jesus, José Ferreira Gomes, João Ferreira Gomes, Levino Ferreira Comes e Lealtina Maria de Jesus.

O início de uma união
Antônio Simão de Melo conheceu Maria Cândida de Jesus da seguinte forma. Um belo dia, Antônio foi passear na casa de Delário Gomes, o qual era pai de lindas moças. Antônio Simão já estava na época de casar, quando ele chegou na casa de Delário na comunidade de Espadilha, as moças se esconderam de vergonha. Ele entrou sentou-se e a Filomena gritou: “Maria vai fazer um café para o Antônio e traz aqui pra ele”. Ela saiu de trás da porta com os pés descalços e as pernas tremendo de vergonha. Maria Cândida fez o café e entregou para Antônio, voltando para o quarto onde estavam todas as suas irmãs. Pelo buraco da fechadura todas elas ficaram olhando para aquele homem e ele, muito esperto, notou vendo por debaixo da porta aquele monte de pés descalços que depois foi motivo de comentários. Ela era ainda uma criança mas mesmo assim foi prometida para Antônio Simão. Mais tarde casaram e tiveram dez filhos: Veli Simão de Melo, Valdivina Maria de Jesus, Levi Simão de Melo, Alice Maria de Melo, Antônio Simão Filho, Aneli Mana de Melo, Arlindo Simão de Melo, José Simão de Melo, Maria Cândida Filha e Antônia Maria de Melo.

Descendentes de Antônio Simão de Melo e Maria Cândida de Jesus:
- Veli Simão de Melo casou-se com Maria de Lourdes Fernandes e tiveram os seguintes filhos: Messias Fernando de Melo, Antônio Fernandes de Melo, Geraldo, Maria do Carmo, Arlindo, Orlando, Doralice, José Luiz, Marcio, Marcelino e Márcia.

- Waldivina Maria de Jesus casou-se com Altino Moreira dos Santos e tiveram um filho chamado Antônio que faleceu ainda criança. Tempos depois Waldivina separou-se de Altino. Ela então casou com Joaquim Vicente de Castro e tiveram um filho chamado Silvano de Castro.

- Levi Simão de Melo casou-se com a Venica e tiveram os seguintes filhos: José Maria, Expedito, Milton, Carlos e Gilson.

- Alice Maria de Melo casou-se com João Basilio da Silva e seus filhos foram: João, Getúlio, Gilberto, Gilson, Geraldo, Guilherme, Gilmar, Maria Alice, Gaspar, Giovani e Gilvan.

- Antônio Simão Filho casou-se com Maria e tiveram os seguintes filhos: Antônio Carlos de Melo, Getúlio, Arlindo e Silvio.

- Aneli Maria de Melo casou-se com Jesus Máximo dos Santos e tiveram os seguintes filhos: Gilberto, Davi, Osvaldo, Ana Maria, Cleusa, Celso, Júlio, Eliane e Roni.

- José Simão de Melo casou-se com Ana Ribeiro de Melo, seus filhos foram: José, Aristides, Aparecida e Amarildo.

- Maria Cândida Filho casou-se com Antônio Carlos da Silva que tiveram os seguintes filhos: Antônio, Mônica, Romeu e Marlene.

- Antônia Maria de Melo casou-se com Gercino Martins de Oliveira e tiveram os seguintes filhos: Selma, Silvana, Adriana e Daniel Simão de Oliveira.

A História de cada um

Veli Simão de Melo — O Primogênito
Desde menino sempre foi muito esperto e safado. Quando ia nascer alguém da família ou da comunidade da Ripa ele é que saia a cavalo até o Cercado (Nova Serrana) para buscar parteira. Quando falecia alguém ele que ia buscar materiais para enfeitar o caixão, fabricado pelo seu pai Antônio Simão de Melo. Já adulto, indo para o sítio (Bairro Serra Verde) meio chumbado de cachaça parou para descansar em frente ao cemitério, sentando no portão e cochilando. Quando acordou já era quase meia noite e como era muito brincalhão e moleque resolveu assustar alguém. Estava passando algumas pessoas que voltavam do forró e ele soltou um gemido bem alto. O povo começou a gritar, alguns mais velhos fizeram até xixi na calça. Ele quase morreu de rir e foi pro seu sítio dando gargalhadas.

Waldivina Maria de Jesus:
Loira, muito bonita, parecida com a sua tia Rosa. Trabalhava no Hospital Nossa Senhora da Aparecida de servente. Já morando em Divinópolis ela começou a fazer parto. Um certo dia fazendo um parto se assustou pois a mulher era hermafrodita (pessoas de dois sexos), seu filho, o pequeno Silvano, como de costume entrou no quarto, viu aquela cena e começou a gritar: “Meu Deus, a mulher é homem e mulher" e saiu fazendo propaganda por toda vizinhança.

Levi Simão de Melo:
Tinha apelido de “Curiango”, pois andava no escuro voltando da vendinha cantando e assoviando, de longe todos sabiam que era ele.

Alice Maria de Melo:
Uma morena bonita deixou o povoado de Ripa para trabalhar na pensão da sua tia Virgínia, na Rua Minas Gerais 186, Divinópolis. Lá conheceu João Basílio da Silva, casaram-se e foram morar em Belo Horizonte. Na véspera do casamento estavam muito alegres, foi na Ripa na casa de seus pais para buscar o seu enxoval, umas duas malas cheias. Para comemorar o seu casamento ela soltou um foguete de três tiros, mas o disparo saiu ao contrário caindo dentro da casa e quase incendiando suas malas de enxoval. Casou-se em 11.09.1947 no Santuário - Divinópolis, uma quinta-feira que chovia muito.

Antônio Simão Filho:
Tocava cavaquinho e tinha apelido de “Ranca Toco”, pois jogava no gol e vivia com os dedos arrebentados. Teve uma noite fria que ele fez uma fogueirinha, seu pai o alertou para apagar a fogueira bem apagada. De madrugada o canavial começou a estalar com o fogo, todos começaram a correr e gritar: “Ô Tonho Tomba Lobo, levanta pra apagar o fogo”. Chega ele apavorado, pelado, igual quando nasceu, dormia assim pois fazia xixi na cama.

Aneli Maria de Melo:
Era muito bonita, trabalhadeira, seu apelido era “Chicuta”, que era uma mulher da Ripa. Aneli era uma mulher de bem com a vida.

Arlindo Simão de Melo:
Aos seis meses de idade faleceu com angina.

José Simão de Melo:
Era custoso, paquerador, tocava violão, cavaquinho e bandolim, era muito inteligente e bom de bola. Tirava dois quadros na roça por dia, um pra ele e outro para o pai dele. Ele já estava rapaz quando também fez uma fogueirinha no quintal. Mas se alastrou por toda a vizinhança. Ele apavorado começou a gritar: “Pai, pai, acode.., acode povo do Bastião”. O pai nervoso gritou: “Ô seu Gato Seco, Paulo Manco, apaga esse fogo sozinho”, mas logo todos ajudaram a apagar.

Maria Cândida Filha:
Era branquinha, loirinha, bonitinha, mas muito chorona. Certo dia na porta da casa na Ripa, passa um homem chamado Zifirino como seu carro de boi, vendo a Lia ele grita: “Quer ir no engenho comer puxa-puxa? Vai lá e pede a sua mãe.” A Lia fez de conta que pediu e voltou falando que podia ir. Ficou o dia todo. Todos da casa ficaram apavorados, no final da tarde chega a Lia e de longe grita: “Mãe estava comendo puxa-puxa (doce feito de rapadura)”. A mãe com uma vara na mão disse:
“Agora você terá puxa-vara”. A Lia apanhando gritava: “Chega mãe, chega de puxa-vara”.

Antônia Maria de Melo — A caçula
Quando nasceu, sua mãe Mana Cândida tinha 46 anos. Seus irmão Veli, Valdivina e Levi já eram casados. Antes de um ano ela era muito doentinha, um dia piorou e todos acharam que ela tinha morrido. Colocaram ela embrulhada em cima de uma mesa, todos choravam e lamentavam a perda. Antônio Simão que fazia os caixões começou a fazer o caixãozinho. Maria Cândida foi dar um banho na menina para colocar uma roupa limpa aí veio a surpresa. A menina assustou pois a água estava muito fria. Graças a Deus Antônia está viva até hoje e com 62 anos (em 2005).
Antônia gostava de roupas curtas e coloridas, bem diferentes da época. Sempre era vaidosa e exigente, foi o único trabalho que deu para seus pais, sua mãe fazia aqueles vestidos compridos com gola. Ela odiava, cortava as golas e arrumava do seu jeito. Certo dia, Maria Cândida, sua mãe, disse para Antônia remendar as calças de seu pai. Ela começou a chorar dizendo: “Não gosto de remendo, não quero remendar nada”. Sua mãe lhe deu um beliscão tão bem dado que ela lembra até hoje. Começou a trabalhar cedo pra ter seu dinheiro pra comprar chita (tecido) e começou a fabricar as suas próprias roupas. Aos 10 mudou-se para Divinópolis e até depois de moça deitava no colo de seu pai para escutar os causos relatados neste documentário.

Causos da Família
A família era muito trabalhadeira, pobre, porém muito feliz. Nunca faltou comida e a união e o respeito reinava por ali. Antônio Simão de Melo, homem caridoso, cuidava dos meninos que chegavam cheios de piolhos e bernes. Dava banho, roupas, comida e cortava os cabelos. Antônio Simão era respeitado e amado por todos, toda noite a turma se reunia para tocar e cantar. Quase todos com instrumento, os que não tinham instrumento acompanhavam com duas colheres e cantavam. As vezes os homens dançavam catira, as moças não podiam dançar, ficavam morrendo de vontade. Na época da quaresma, todos os instrumentos eram guardados e as cordas eram retiradas em forma de respeito. Quando chegava o Sábado de Aleluia, todos acordavam de madrugada, os homens iam matar e preparar porco e as mulheres fazer biscoitos e doces. Os instrumentos eram novamente preparados e era uma alegria só, cantando e comendo.

Na Ripa, tinha uma estrada onde passava as comitivas com as boiadas. A estrada era muito ruim, sempre uma ou outra novilha quebrava a perna e os boiadeiros vendiam para Antônio Simão por um preço bem baixo. Juntava todos os filhos para destrinchar a novilha. Depois como de costume dava uns pedaços para os vizinhos. Tinha uma vizinha solteirona que exigia a cabeça da novilha, apelidaram a de “Augusta Cabeça”. Ela foi autora de uma história que marcou a fazenda de Inácio Ferreira Gomes, tio da Maria Cândida de Jesus. Augusta Cabeça tacava pedras e gemia como se fosse assombração. Todos na Ripa chamaram os padres para benzer as fazendas achando que era coisa sobrenatural. Antônio Simão desconfiado ficou escondido atrás da moita e disse: “É hoje que eu pego essa assombração”. Pouco tempo depois escutou um gemido, quando foi ver o que era deu de cara com Augusta Cabeça tacando pedra no telhado da fazenda, gemendo e morrendo de rir. Antônio Simão pegou Augusta pelo braço jogou no Meio da sala dizendo: “A assombração é isso aqui ô. Augusta Cabeça ficou sem graça e nunca mais repetiu o feito.

Fonte: Histórias contadas por Antônia Maria de Melo e reescritas por Daniel Simão.

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