Eu tinha uns sete anos de idade. Naquela época, mamãe trocava garrafas por pintinhos, criava-os, ou pelo menos tentava, para servirem como alimento mais tarde.
Digo tentava porque eles serviam como brinquedo para mim. Eu os jogava para cima, passava meus carrinhos por cima, punha-os em cima de uma bola para ver o que acontecia, etc. Obviamente, eu os tratava com o máximo de cuidado porque eram meu brinquedo favorito, mas isso não era suficiente. Virava e mexia eu tinha que fazer uma cerimônia fúnebre e enterrar um ou outro no cemitério de costume - lote da Dona Naná. Mamãe falava que não ia trocar mais garrafas por pintinhos porque eles eram muito fracos, não viviam nada, e o guisado nunca que acontecia...
Num belo dia, percebi que só restava um, o mais forte de todos, e portanto, resolvi tratá-lo de forma diferenciada. Eu corria atrás dele pela casa inteira até ele se cansar. Era gostoso porque nós dois nos exercitávamos muito e ele estava cada vez mais forte. Papai disse:
- É, Alice, pelo menos um se salvou. Daqui a uns dias temos um frango criado em casa para comer.
Nesse mesmo dia, durante a corrida matinal, estávamos fazendo o percurso: terreiro, rampa, quartos de baixo (do Gilmar, Gaspar e Giovani), quarto de cima (do Lila e Gilberto), copa, sala e terreiro de novo. Quando chegamos no quarto de baixo, vi um fogaréu danado. O franguinho, muito bobo, se enfiou exatamente debaixo da cama que estava pegando fogo. Eu não sabia se pegava água ou se salvava meu companheiro. Chamei papai e mamãe, e enquanto eles jogavam água eu me deitava no chão para socorrê-lo. Quando o vi, me deu um nó na garganta, e de forma solene coloquei-o em sua cama (uma caixeta de sapato) e rezei chorando. Meu companheiro foi enterrado junto aos seus irmãozinhos, mas desta vez, meu coração doía...
Mamãe trocava garrafas por pintinhos... (Gilvan)
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