Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa)
Enviado: Sáb 28 Mai 2005 2:57 am
Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo. Se o Senhor souber, sabe. Não sabendo, não me entenderá. A gente só aprende bem, aquilo que não entende. E o que não existe de se ver tem força demais, em certas ocasiões. Viver não é? É muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender a viver é que é o viver mesmo.
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!
Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?
Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda e num ponto muito mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?
A gente vive não é caminhando de costas?
Viver é um descuido prosseguindo.
...a vida não é entendível.
A gente só sabe bem aquilo que não entende.
...todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas.
Todos estão loucos neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente – o que produz os ventos.
Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto. As pessoas, e as coisas, não são de verdade!
Vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
Sou um homem ignorante. Gosto de ser. Não é só no escuro que a gente percebe a luzinha dividida? Eu quero ver essas águas, o lume da lua...
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!
Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?
Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda e num ponto muito mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?
A gente vive não é caminhando de costas?
Viver é um descuido prosseguindo.
...a vida não é entendível.
A gente só sabe bem aquilo que não entende.
...todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas.
Todos estão loucos neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente – o que produz os ventos.
Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto. As pessoas, e as coisas, não são de verdade!
Vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
Sou um homem ignorante. Gosto de ser. Não é só no escuro que a gente percebe a luzinha dividida? Eu quero ver essas águas, o lume da lua...