O Nome dele é Papai (Geraldo)
Enviado: Qua 06 Jul 2005 5:59 pm
Raramente temos tempo de refletir sobre um assunto tão importante e tão presente em cada momento de nossas vidas.
Quantas vezes já sentimos falta do pai, às vezes por esquecermos Dele (Deus) ... Quantas vezes já deixamos de ser pai, quanto esse era o nosso papel... Quantas vezes fomos pai, sem sabermos, de pessoas que acolheram nossos conselhos e deram a eles o valor real que gostaríamos que fosse dado...
Desde sempre somos pais. Desde o momento em que nos conscientizamos da nossa personalidade cristã. Cada ser humano é responsável por outros, a partir do momento em que entende a vontade de Jesus, de perpetuar o bom, o bem.
Eu sou um privilegiado. Além das minhas características físicas, que acabam por me ajudar na compreensão da vida, já havia recebido uma filiação ideal e, depois, ganhei exemplos, estudei um pouco, o que me permite lembrar do papai de uma forma calma, tranqüila, equilibrada.
Ele foi (e continua sendo) exemplo em vários aspectos. Eu poderia me lembrar de assuntos da infância, quando percebi lições de honestidade, honradez, sociabilidade, solidariedade, cristandade... Poderia repensar o jeito como ele conduziu a vida de solteiro dele, mas prefiro me ater a momentos mais atuais.
Quando vim morar com papai e mamãe, depois do divórcio, achei que Deus estava dando para mim o presente do conforto da presença deles. Mas não era só isso. Eu estava ganhando a oportunidade de vivenciar o dia-a-dia deles.
Mamãe sempre foi muito ativa (física). O papai sempre foi mais pensador (espiritual). Os textos dele, as músicas, tudo dele confirma isso. A benção que a mamãe representa eu vou retratar em outra página. Agora, vejo alguns dos melhores momentos dele.
Lembro do último momento ativo dele na casa. Eu estava no meu quarto, trabalhando, e ouvi barulho no fundo do corredor lateral da casa. Fui lá para saber o que estava acontecendo. Ele estava com uma meia-telha nas mãos, estorvado, quando perguntei o que ele estava querendo fazer. “Eu tô querendo colocar essa telha aqui, em pé, de maneira que escore a planta (cana de macaco) da sua mãe, que está muito caída, cobrindo as outras, que também precisam de luz para viverem...
A presença dele continua constante com o seu andar lento, arrastando o chinelo, indo para o quintal em direção da oficina, buscando o que fazer. Mexia no esmeril, tocava ou apenas fingia afinar o violão ou qualquer outro instrumento, deixava a luz acesa com naturalidade, sabendo que a mamãe ou eu apagaríamos.
Quando em quando ele me chamava para rever algumas músicas. Pedia que eu fizesse compilações. Eram feitas. Dali a poucos dias ele me chamava de novo para rever, e eu constatava que tudo fora apagado... Tudo bem, começávamos tudo de novo.
Bem humorado, muitas vezes ele falou: “ Minha parte eu já fiz. Já almocei. Agora é com você e sua mãe (falava isso apontando para o arroz derramado na mesa e no chão, que nós juntávamos para pôr para os passarinhos).
E a imagem mais clara que trago é a das vezes em que o via aqui, sentado perto do tanque, no banquinho, os pés apoiados numa banqueta, mãos cruzadas sobre o abdome, boca semi aberta, olhos estatelados mirando o céu, numa atitude de contemplação. Era como se ele estivesse em profunda viagem, em comunicação com o infinito, numa linguagem que mamãe e eu só conseguíamos decodificar pela compreensão da grandeza e misericórdia de Deus.
Não posso deixar de lembrar das lamentações da mamãe, após a partida dele, quando ela dizia sentir falta até das pernas pesadas dele sobre a barriga dela, e o braço apoiado sobre a garganta, enquanto dormia... E ela dizendo que ficava ali, acordada, imobilizada, incomodada mas firme, para não incomodar o sono dele.
Enfim, eu me lembro do meu pai assim: Um homem que além de dar exemplos fazendo, deu exemplos deixando fazermos. Ensinou com maestria a nos assumirmos enquanto filhos de Deus, sobretudo. Como filhos, como pais, como irmãos... Ele é elo de ligação de uma enorme e maravilhosa família. E quando digo que É, refiro-me ao sentido literal. Papai não morrerá nunca, porque ele está impregnado em todos nós da maneira mais efetiva que se pode conceber.
Com ele eu aprendi e tento exercitar a tolerância, a paciência, a calma, a inteligência. Com ele eu vivenciei que a harmonia com as pessoas, a natureza e as coisas é sublime e possível. Com ele enxerguei melhor que a vida e uma bonita passagem e, sobretudo, que a morte é ilusão, já que continuaremos como almas, sempre capazes de iluminar ou obscurecer o caminho dos semelhantes, de acordo com nossas obras.
Toda essa reflexão explica, pelo menos para mim, a tranquilidade com que encaro a ida do papai. Sei que ainda tenho que “caminhar” um pouco mais por aqui, que tenho alguns deveres para cumprir, e tentarei cumprir com êxito. Principalmente porque, tenho plena consciência, todos nós nos encontraremos com ele na nossa casa definitiva, almas em crescimento que somos, e teremos a serenidade do dever cumprido, a humildade e a grandeza conciliadas para receber o abraço amoroso do papai, e o sorriso aconchegante e misericordioso de DEUS.
Gê
03/07/2005
Quantas vezes já sentimos falta do pai, às vezes por esquecermos Dele (Deus) ... Quantas vezes já deixamos de ser pai, quanto esse era o nosso papel... Quantas vezes fomos pai, sem sabermos, de pessoas que acolheram nossos conselhos e deram a eles o valor real que gostaríamos que fosse dado...
Desde sempre somos pais. Desde o momento em que nos conscientizamos da nossa personalidade cristã. Cada ser humano é responsável por outros, a partir do momento em que entende a vontade de Jesus, de perpetuar o bom, o bem.
Eu sou um privilegiado. Além das minhas características físicas, que acabam por me ajudar na compreensão da vida, já havia recebido uma filiação ideal e, depois, ganhei exemplos, estudei um pouco, o que me permite lembrar do papai de uma forma calma, tranqüila, equilibrada.
Ele foi (e continua sendo) exemplo em vários aspectos. Eu poderia me lembrar de assuntos da infância, quando percebi lições de honestidade, honradez, sociabilidade, solidariedade, cristandade... Poderia repensar o jeito como ele conduziu a vida de solteiro dele, mas prefiro me ater a momentos mais atuais.
Quando vim morar com papai e mamãe, depois do divórcio, achei que Deus estava dando para mim o presente do conforto da presença deles. Mas não era só isso. Eu estava ganhando a oportunidade de vivenciar o dia-a-dia deles.
Mamãe sempre foi muito ativa (física). O papai sempre foi mais pensador (espiritual). Os textos dele, as músicas, tudo dele confirma isso. A benção que a mamãe representa eu vou retratar em outra página. Agora, vejo alguns dos melhores momentos dele.
Lembro do último momento ativo dele na casa. Eu estava no meu quarto, trabalhando, e ouvi barulho no fundo do corredor lateral da casa. Fui lá para saber o que estava acontecendo. Ele estava com uma meia-telha nas mãos, estorvado, quando perguntei o que ele estava querendo fazer. “Eu tô querendo colocar essa telha aqui, em pé, de maneira que escore a planta (cana de macaco) da sua mãe, que está muito caída, cobrindo as outras, que também precisam de luz para viverem...
A presença dele continua constante com o seu andar lento, arrastando o chinelo, indo para o quintal em direção da oficina, buscando o que fazer. Mexia no esmeril, tocava ou apenas fingia afinar o violão ou qualquer outro instrumento, deixava a luz acesa com naturalidade, sabendo que a mamãe ou eu apagaríamos.
Quando em quando ele me chamava para rever algumas músicas. Pedia que eu fizesse compilações. Eram feitas. Dali a poucos dias ele me chamava de novo para rever, e eu constatava que tudo fora apagado... Tudo bem, começávamos tudo de novo.
Bem humorado, muitas vezes ele falou: “ Minha parte eu já fiz. Já almocei. Agora é com você e sua mãe (falava isso apontando para o arroz derramado na mesa e no chão, que nós juntávamos para pôr para os passarinhos).
E a imagem mais clara que trago é a das vezes em que o via aqui, sentado perto do tanque, no banquinho, os pés apoiados numa banqueta, mãos cruzadas sobre o abdome, boca semi aberta, olhos estatelados mirando o céu, numa atitude de contemplação. Era como se ele estivesse em profunda viagem, em comunicação com o infinito, numa linguagem que mamãe e eu só conseguíamos decodificar pela compreensão da grandeza e misericórdia de Deus.
Não posso deixar de lembrar das lamentações da mamãe, após a partida dele, quando ela dizia sentir falta até das pernas pesadas dele sobre a barriga dela, e o braço apoiado sobre a garganta, enquanto dormia... E ela dizendo que ficava ali, acordada, imobilizada, incomodada mas firme, para não incomodar o sono dele.
Enfim, eu me lembro do meu pai assim: Um homem que além de dar exemplos fazendo, deu exemplos deixando fazermos. Ensinou com maestria a nos assumirmos enquanto filhos de Deus, sobretudo. Como filhos, como pais, como irmãos... Ele é elo de ligação de uma enorme e maravilhosa família. E quando digo que É, refiro-me ao sentido literal. Papai não morrerá nunca, porque ele está impregnado em todos nós da maneira mais efetiva que se pode conceber.
Com ele eu aprendi e tento exercitar a tolerância, a paciência, a calma, a inteligência. Com ele eu vivenciei que a harmonia com as pessoas, a natureza e as coisas é sublime e possível. Com ele enxerguei melhor que a vida e uma bonita passagem e, sobretudo, que a morte é ilusão, já que continuaremos como almas, sempre capazes de iluminar ou obscurecer o caminho dos semelhantes, de acordo com nossas obras.
Toda essa reflexão explica, pelo menos para mim, a tranquilidade com que encaro a ida do papai. Sei que ainda tenho que “caminhar” um pouco mais por aqui, que tenho alguns deveres para cumprir, e tentarei cumprir com êxito. Principalmente porque, tenho plena consciência, todos nós nos encontraremos com ele na nossa casa definitiva, almas em crescimento que somos, e teremos a serenidade do dever cumprido, a humildade e a grandeza conciliadas para receber o abraço amoroso do papai, e o sorriso aconchegante e misericordioso de DEUS.
Gê
03/07/2005