O garfo aéreo (Geraldo)
Enviado: Dom 13 Jan 2008 11:16 pm
Fico encabulado quando me associam a uma criança arteira. Nunca fui. Escrevo pra mim mesmo e pra todos que possam me ouvir: Eu sempre fui um menino B O N Z I N H O ! ! !
Só porque dava tapas na bunda da minha mãe? Só porque ironizava e deixava todo mundo possesso de raiva? Só porque usava, escondido, as roupas de “grife” do Tilila ...??? Não é possível! Será que vou ser taxado de menino mau, só porque “currava” umas tirinhas de coco na barraquinha que meu pai montou em frente à nossa casa para, com isso, tentar conquistar minha primeira namoradinha, na escola?
Eu nem acredito... Mesmo se todo mundo soubesse que, uma vez, desceram uns moleques do Alto Vera Cruz, roubaram coco, rapadura, queijo e algumas moedas, e eu fiquei calado, com medo de ganhar um falatório, mesmo assim acho que não mereceria castigo...
Intimamente, entretanto, em raríssimas vezes, fui repreensível. Menos de quinze mil, oitocentas e treze vezes.
Aconteceu uma vez, por exemplo, quando eu cismei de implicar com o Gilmar. Mamãe havia saído para levar algum filho ao médico, eu acho. Gilmar e eu ficamos em casa e eu, na falta de coisa melhor para fazer, comecei a encher a bolsa escrotal dele:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Ele odiava que o chamássemos assim. Eu, corajoso e forte, continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Ele não sabia se fugia da implicância e, alguns diriam, da “sacanagem”, ou se me enfrentava. E eu continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Olha, mesmo na época, eu fiquei impressionado: o Gilmar inchava, o rosto avermelhava, ele ia de lá para cá, os nervos à flor da pele pedindo insistentemente:
- Pára, Lalá, pára, Lalá !
Eu, que já não gostava do apelido Lalá, ficava mais cheio de razão e continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Não mais que de repente, o Gilmar olhou para todos os lados. Havia móveis que ele não conseguiria carregar, objetos que, se quebrados, custariam algumas boas palmadas para ele, as telhas da casa que ele não conseguiria alcançar... Alheio a tudo isso, eu continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Eu não vi, mas ele encontrou algo. Numa fração de segundo, vi um objeto seguindo em minha direção, um cabo, quatro pontas, girando, girando, até alcançar meu antebraço esquerdo! Um garfo pendurado em mim, fazendo vai–e-vem pra cima, pra baixo. Não sabia o que fazer.
Sentindo-me ofendido, maltratado, corri em direção ao meu quarto. Tinha que pensar rápido, encontrar alguma forma de revidar. No meu quarto, segurei firme a arma com os dedos polegar e indicador da mão direita, arranquei o objeto de tortura. Doeu, mas não sangrou. Pensei na melhor forma de devolver à altura o mal voador que ele havia arremetido contra mim, e encontrei: voltei para a copa e, olhando-o com olhar choroso e impotente, repeti:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Meu braço cicatrizou rápido. Não ficou qualquer ressentimento do chumbo trocado. Hoje eu vejo como foi divertido o episódio, e agradeço por ter mais isso pra contar.
Só porque dava tapas na bunda da minha mãe? Só porque ironizava e deixava todo mundo possesso de raiva? Só porque usava, escondido, as roupas de “grife” do Tilila ...??? Não é possível! Será que vou ser taxado de menino mau, só porque “currava” umas tirinhas de coco na barraquinha que meu pai montou em frente à nossa casa para, com isso, tentar conquistar minha primeira namoradinha, na escola?
Eu nem acredito... Mesmo se todo mundo soubesse que, uma vez, desceram uns moleques do Alto Vera Cruz, roubaram coco, rapadura, queijo e algumas moedas, e eu fiquei calado, com medo de ganhar um falatório, mesmo assim acho que não mereceria castigo...
Intimamente, entretanto, em raríssimas vezes, fui repreensível. Menos de quinze mil, oitocentas e treze vezes.
Aconteceu uma vez, por exemplo, quando eu cismei de implicar com o Gilmar. Mamãe havia saído para levar algum filho ao médico, eu acho. Gilmar e eu ficamos em casa e eu, na falta de coisa melhor para fazer, comecei a encher a bolsa escrotal dele:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Ele odiava que o chamássemos assim. Eu, corajoso e forte, continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Ele não sabia se fugia da implicância e, alguns diriam, da “sacanagem”, ou se me enfrentava. E eu continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Olha, mesmo na época, eu fiquei impressionado: o Gilmar inchava, o rosto avermelhava, ele ia de lá para cá, os nervos à flor da pele pedindo insistentemente:
- Pára, Lalá, pára, Lalá !
Eu, que já não gostava do apelido Lalá, ficava mais cheio de razão e continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Não mais que de repente, o Gilmar olhou para todos os lados. Havia móveis que ele não conseguiria carregar, objetos que, se quebrados, custariam algumas boas palmadas para ele, as telhas da casa que ele não conseguiria alcançar... Alheio a tudo isso, eu continuava:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Eu não vi, mas ele encontrou algo. Numa fração de segundo, vi um objeto seguindo em minha direção, um cabo, quatro pontas, girando, girando, até alcançar meu antebraço esquerdo! Um garfo pendurado em mim, fazendo vai–e-vem pra cima, pra baixo. Não sabia o que fazer.
Sentindo-me ofendido, maltratado, corri em direção ao meu quarto. Tinha que pensar rápido, encontrar alguma forma de revidar. No meu quarto, segurei firme a arma com os dedos polegar e indicador da mão direita, arranquei o objeto de tortura. Doeu, mas não sangrou. Pensei na melhor forma de devolver à altura o mal voador que ele havia arremetido contra mim, e encontrei: voltei para a copa e, olhando-o com olhar choroso e impotente, repeti:
- Tumêca dos Cós-Côs! Tumêca dos Cós-Côs! ...
Meu braço cicatrizou rápido. Não ficou qualquer ressentimento do chumbo trocado. Hoje eu vejo como foi divertido o episódio, e agradeço por ter mais isso pra contar.