Vou contar a minha vida, de tudo que sou consciente desde quando eu fui nascido e o que me vem acontecendo até o dia presente. Eu nasci num lugar chamado Mato Grosso e mudei para o Cacique em Ribeirão das Neves. Lá era assim, a água era de poço e nossa casa era um rancho de pau a pique e coberto de capim. Não se comprava nem vendia, o papai plantava e colhia a nossa alimentação. Tinha mandioca prá comer com o feijão, tinha inhame chinês para fazer o sopão e tinha cana que adoçava o café que eu catava na fazenda do patrão. Era eu mesmo que apanhava no pé, por isto deixava cair mais um pouco no chão.
Depois fizeram uma cadeia no lugar, o estado tomou os nossos meios de plantar e ficamos todos sofrendo pois não tinha mais o terreno para fazer nosso alimento. Aí ficou diferente e mudou toda nossa sorte e não tinha mais fartura do alimento que era forte, pois comíamos jiló sem gordura e farinha de mandioca.
Foi muito duro mas mudamos para o arraial e fizemos um barraco no terreno da Igreja. Por muito ruim que seja deu para morar uns meses cortando lenha no mato até os ombros ficarem doendo, mas aquilo não estava rendendo dinheiro suficiente para pagar o sustento. Eu falei com o meu pai: - Vamos para Belo Horizonte porque lá tem muita fonte para a gente trabalhar. O papai me respondeu: - Posso até te atender , mas morar em lugar grande é ruim até para morrer. Eu respondi: - O que o senhor disse é fácil de entender, mas morar em lugar pequeno é ruim também para viver.
Então nós resolvemos e juntamos nossos cacos e fomos para Belo Horizonte para morar em um buraco cheio de rãs e sapos, que faziam tanto barulho que eu nem podia dormir, mas eu enquanto esperava que alguma coisa progredisse, foi quando o patrão me disse: - João, vamos sair daí, eu preciso do terreno, vou demolir isso tudo.
Mas eu tinha um outro amigo de amizade antiga, o qual eu nem conhecia bem. Ele me falou: - João, vamos para o Bairro Sagrada Família, tenho lá um bangalô que vocês podem morar enquanto você precisar. Juntamos as nossas coisas, eu, a mamãe, minhas três irmãs e o papai.
Um dia estava eu e meu pai trabalhando, por incrível que pareça, coisa que eu não me esqueço, ele me falou: - Ô João, eu já vou-me embora, estou com muita dor de cabeça. Eu disse: - Pode ir meu pai, estou acabando com a massa, agora mesmo desço. Depois de uns cinqüenta minutos eu tive um grande susto, ao entrar dentro de casa o papai estava deitado e ele já nem falava e nem pode me conhecer. Em vinte e quatro horas ele chegou a falecer, mas aconteceu um problema, nós não tínhamos o atestado de óbito para fazer o enterro e os médicos tiveram que abrir o corpo para saber de que ele morreu para então poder enterrar. Depois de tudo arrumado eu fiquei desesperado e disse à minha mãe: - Mamãe, agora perdi meu pai, companheiro e amigo de todas as horas, ele não volta mais, mas quando eu for embora eu encontro com ele lá, no Santo Reino da Glória, quando Deus me mandar.
Passado mais ou menos um ano eu perdi também uma irmã de morte inesperada, pois eu viajei e logo que eu cheguei recebi um telefonema dizendo que Ana morreu. Vim correndo para casa e quando cheguei esta Ana que morreu estava na hora de sepultar. Eu tive muita tristeza, mas tenho grande certeza que ela foi direto para o céu, para com Deus morar.
A História do João Basilio contada por ele
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